As pectinases, também
denominadas enzimas pécticas, são enzimas capazes de reconhecer ligações
glicosídicas do tipo α-1,4 entre unidades de ácidos galacturônicos ou seu
derivado metoxilado. São produzidas por vegetais e microrganismos e seu
substrato são os polissacarídeos constituintes da lamela média e da parede
primária de células vegetais. Estão envolvidas nos processos
fisiológicos dos vegetais e são empregadas em nível industrial, destacando-se por serem as enzimas mais
utilizadas pelas indústrias de processamento de frutas. As
pectinases são constituídas por um complexo multienzimático.
A classificação das
pectinases baseia-se: no modo de ataque às moléculas dos polímeros pécticos; na
preferência pelo substrato (que pode ser pectina, ácido péctico ou
protopectina); e na ação, seja ela por transeliminação ou hidrólise e por
clivagem randômica (enzima endo) ou terminal (enzima exo).
Existem basicamente três
tipos de pectinases: A pectinaesterase, que remove os grupos metil éster; as
protopectinases, que solubilizam protopectina para formar pectina; e as
despolimerizantes (incluem as enzimas hidrolíticas e as liases), que catalisam
a clivagem das ligações glicosídicas das substâncias pécticas. As enzimas hidrolíticas incluem as poligalacturonases e as polimetilgalacturonases.
As
enzimas, de um modo geral, são amplamente utilizadas nos mais diversos
processos industriais, em razão da sua especificidade e do seu potencial
catalítico. Entretanto, uma enzima torna-se de valor comercial somente se
houver demanda ou possuir propriedades que atendam aos requerimentos técnicos e
econômicos do processo em escala industrial. Enzimas que são
obtidas por processos fermentativos oferecem uma série de vantagens, que fazem
da sua aplicação na indústria de alimentos uma alternativa consistente por se
tratar de um processo que consome pouca energia, melhora a qualidade de vários
produtos e causa um mínimo de impacto ambiental.
As
pectinases foram as primeiras enzimas a serem
industrialmente utilizadas, com suas aplicações descritas inicialmente em 1930.
Entretanto, apenas na década de 1960
a natureza química de tecidos vegetais tornou-se
evidente, de modo a permitir grande expansão no mercado de enzimas.
Pectinases podem ser sintetizadas por bactérias, fungos e
leveduras. Atualmente a utilização de enzimas de origem fúngica tem aumentado
progressivamente, apresentando grande destaque no setor industrial,
principalmente no processamento de sucos de frutas e vinhos, tratamento de
fibras têxteis e na fermentação do cacau e do café. A produção de pectinases
por microrganismos é influenciada pelas condições de cultivo, em particular, do
meio de cultura, tempo de cultivo e escolha de linhagens apropriadas. Quando
esses critérios são alcançados, tem-se uma melhor produção enzimática.
A utilização de bactérias, leveduras ou fungos filamentosos
despertam grande interesse de estudo em virtude de inúmeras vantagens
apresentadas, tais como: não necessitam de amplos espaços para seu crescimento;
conseguem degradar e crescer em diversos substratos, inclusive em resíduos
industriais, os quais podem ser aproveitados desde que se escolha o
microrganismo apropriado ou adaptado para a finalidade desejada; possuem um
crescimento rápido quando as condições são favoráveis para o seu crescimento e
podem ser manipulados geneticamente para a obtenção de mutantes desejados.
Na Indústria de sucos, o esmagamento mecânico de frutas
ricas em pectina produz um suco com grande viscosidade, pois a pectina
permanece ligada à polpa na forma de uma massa gelatinosa. É difícil extrair
este suco por pressão ou usando outros métodos mecânicos. Com a adição de
pectinases, a viscosidade do suco da fruta diminui, a possibilidade de
pressionar a polpa aumenta, a estrutura gelatinosa se desintegra e o suco é
facilmente obtido, apresentando inclusive
maiores rendimentos.
Outras áreas de aplicação
incluem a indústria de papel, polpa, extração de óleo, fabricação de alimentos
para bebês, elaboração de ração animal e indústria têxtil. Na indústria têxtil,
pectinases são empregadas na maceração do linho e no tratamento de fibras
têxteis brutas, como a juta e o rami. As pectinases também são utilizadas na indústria
de fermentados, como na fermentação do café, do cacau e do fumo.
Com base em suas aplicações, as pectinases podem ser
classificadas em dois tipos: pectinases ácidas e pectinases alcalinas.
Pectinases ácidas são usadas nas
indústrias de suco de frutas e na fabricação de vinho, normalmente vêm de
fontes fúngicas. Os sucos produzidos por estas Indústrias comercialmente
Incluem: (A) Sucos claros brilhantes (sucos de maçã, pêra e uva), (B) Sucos
turvos (sucos cítricos, suco de ameixa, suco de tomate e néctares), e (C)
produtos unicelulares nos quais a intenção é preservar a integridade das
células da planta através de hidrólise seletiva dos polissacarídeos da lamela
central. Os objetivos de se acrescentar enzimas diferem nestes três tipos de
sucos de frutas e vegetais. Pectinases alcalinas são utilizadas,
principalmente, no descolamento e maceramento de safras de fibras e no
pré-tratamento de água efluente da indústria de sucos de frutas. Estas enzimas
vêm, majoritariamente, de fontes bacterianas.
A poligalacturonase é uma
hidrolase que se apresenta sob duas formas: a endo-PG e a exo-PG. A primeira
atua sobre ácido pectico, é ativada em pHs 4,0-6,0 e temperaturas no intervalo
de 30-40°C.
A determinação de sua atividade pode ser medida pela diminuição de viscosidade
ou por quantificação de grupos redutores resultantes da reação de hidrólise. A
exo-PG obtida a partir de fungos produz ácido monogalacturônico como principal
produto de hidrólise em reações com pHs óti-mos na faixa de 4,0-6,0. A
determinação de atividade é realizada pela quantificação dos grupos redutores
formados na hidrólise.
As poligalacturonases catalisam a hidrólise das ligações
glicosídicas α (1→4) da cadeia de ácido poligalacturônico. São
as mais extensivamente estudadas entre as enzimas pectinolíticas. As endopoligalacturonases hidrolisam as ligações glicosídicas α
(1→4) internas de forma randômica, causando a despolimerização da molécula e
liberando oligômeros de ácidos poligalacturônico, enquanto as
exopoligalacturonases removem as moléculas de ácido D-galacturônico pela
hidrólise das ligações glicosídicas α (1→4) a partir da extremidade não
redutora liberando ácidos di ou monogalacturônico. As
poligalacturonases fúngicas são úteis pela alta atividade enzimática e por
possuir maior atividade na região levemente ácida.
A enzima endopoligalacturonase (E.C. 3.2.1.15) (Figura 1) é a enzima
péctica que catalisa a hidrólise da cadeia do ácido poligalacturônico, com a
introdução de uma molécula de água. São produzidas por fungos filamentosos,
bactérias e algumas leveduras. Uma das
aplicações das enzimas pécticas, como referido anteriormente, é na indústria de
processamento de frutos, para a extração e clarificação dos sumos, assim como
para a redução da viscosidade sem perda do caráter encorpado dos mesmos. Na
primeira situação, uma preparação de enzimas que contenha pectinesterase é a
mais eficiente. Contudo, quando o caráter encorpado é necessário, uma
preparação que contenha somente endopoligalacturonase permite obter melhores
resultados.
Figura 1: Endopoligalacturonase II produzida por
aspergillus niger
(http://www.rug.nl/scheikunde/onderzoek/programmas/proteincrystallography/gallery/index
)
Algumas
poligalacturonases de origem fúngica têm sido purificadas e caracterizadas
mostrando variações nas suas propriedades químicas e físicas. A
tabela a seguir mostra resultados da caracterização de endopoligalacturonase
provenientes de várias fontes.
As
pectinases produzidas por fungos do gênero Aspergillus são de grande
importância por sua aceitabilidade na indústria de processamento de alimentos. Os
fungos filamentosos, em especial do gênero Aspergillus
(Aspergillus niger, Aspergillus oryzae e
Aspergillus wentii) possuem corpos de frutificação com conidióforos
contendo vesículas terminais arredondadas, recobertos de esporos nas
extremidades das hifas e, no caso do Aspergillus niger, a cor dos esporos é
negra (Figura 2).
Figura 2: Aspergillus
niger (READ, 1991)
O
gênero Aspergillus é o mais comum dos
fungos filamentosos, além de ser um dos mais estudados. As espécies que compõe
este gênero têm ampla distribuição mundial estando presente na superfície, no
ar e na água, tanto em organismos vegetais quanto em animais, além de estarem
associadas com a deterioração de materiais vegetais e alimentos, principalmente
em regiões de clima tropical e sub-tropical. Muitas das espécies de Aspergillus
são utilizadas para a obtenção de enzimas, na biossíntese química e na
transformação de compostos. Há espécies patogênicas para o homem e para os
animais e há aquelas que durante seu metabolismo produzem tóxicos. A taxonomia
atual reconhece 150 espécies do gênero Aspergilus, entretanto somente 30
destas são bem definidas e atualmente facilmente distinguíveis.
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