As proteínas ou enzimas de interesse presentes no extrato fermentado bruto podem
ser precipitadas pela adição de sal, solventes ou polímeros orgânicos ou pela variação
do pH e temperatura da solução. Os agentes precipitantes
mais comuns estão listados na Tabela 1.
Tabela 1: Agentes precipitantes
A propriedade de um sal particular ser utilizado como agente precipitante é descrito
pela chamada série de Hofmeister, mostrada abaixo na Figura 1.
Figura 1- Série de Hofmeister
A precipitação por sais é um dos métodos mais comum de precipitação de
proteínas, utilizado tanto em escala de bancada quanto em escala industrial. A adição
de sal em uma solução contendo proteínas promove a precipitação destas devido a uma redução na solubilidade decorrente de um efeito “salting-out” (hidrofóbico) ou da combinação de um efeito “salting-in” (eletrostático) com um efeito “salting-out”. O efeito “salting-in” faz com que a solubilidade do soluto aumente com o aumento da concentração do sal. Já o efeito “salting-out” provoca a redução da solubilidade com
aumento da concentração do sal.
A redução da solubilidade das proteínas ocorre porque os íons do sal competem
com a proteína pelas moléculas de água, diminuindo a solubilidade da proteína,
uma vez que a camada de hidratação é parcialmente removida e as interações
proteína-proteína se tornam relevantes, principalmente no que diz respeito à interações
hidrofóbicas. Outra explicação pode ser dada em termos do
aumento da tensão superficial do líquido devido à adição de sal, que aumenta a
energia livre necessária para a formação de uma cavidade no solvente, na qual a
molécula de proteína estaria dissolvida.
Dentre os sais utilizados para promover a precipitação de proteínas, o sulfato de
amônio destaca-se por ser altamente solúvel, forma soluções de baixa densidade e
seus íons possuem posição favorável na série de Hofmeister com relação à
efetividade de precipitação. Além disso, o sal apresenta baixo custo, alta pureza,
impede a proliferação de bactérias na solução e não apresenta efeitos desnaturantes.
Quando ocorre a precipitação de proteínas por sais, é formado um sistema bifásico
constituído de uma fase líquida concentrada em eletrólito e uma fase composta
contendo a proteína precipitada e uma grande quantidade de fase líquida salina, ou
sal ligado intrinsecamente à proteína. Isto constitui uma desvantagem, pois são
necessários tratamentos subseqüentes como diálise ou diafiltração para a
eliminação do sal presente no precipitado e o processamento da fase líquida para
sua reutilização ou descarte. Esses tratamentos limitam em parte as aplicações do processo de precipitação por “salting-out” devido ao custo dos mesmos. Outra
técnica para promover a precipitação de proteínas é a adição de solventes orgânicos,
como o etanol e a acetona.
A adição de solventes orgânicos promove a precipitação de proteínas devido à
diminuição da atividade da água na solução, pois a água é substituída pelo solvente
orgânico. A adição do solvente provoca a diminuição da constante dielétrica da
solução, intensificando as forças de atração entre as cargas opostas das moléculas de
proteína, reduzindo o poder de solvatação destas moléculas pela água, uma vez
que há o deslocamento e imobilização parcial das moléculas de água para a
hidratação do solvente orgânico.
Nesse processo, as variáveis: concentração do solvente orgânico, concentração de
proteína, pH, força iônica e temperatura são mantidas sob controle. É imprescindível
que as operações de precipitação com solvente sejam feita á baixa temperatura, para
evitar a desnaturação das proteínas. Como a adição de um solvente orgânico diminui o
ponto de congelamento da solução, podem ser utilizadas temperaturas inferiores a 0 °C.
A precipitação isoelétrica é uma técnica que explora o fato das proteínas
apresentarem baixa solubilidade no seu ponto isoelétrico. Nesta técnica, ajusta-se o pH
do meio até que este seja igual ao ponto isoelétrico (pI) da proteína. Neste pH, a
carga líquida da molécula é nula, e a repulsão eletrostática entre as moléculas é
mínima, prevalecendo as interações hidrofóbicas proteína-proteína. Em alguns casos,
podem ocorrem desnaturação e inativação da proteína precipitada, o que torna
esse processo útil na remoção de proteínas indesejáveis da solução que contém a
proteína-alvo, desde que nas condições de precipitação a proteína alvo seja estável.
Além do pH, outro parâmetro que influencia a precipitação de proteínas em
soluções de sais é a temperatura. Mantendo a concentração de sal constante e
variando a temperatura é possível fracionar uma solução contendo proteínas.
Após a precipitação por qualquer um dos métodos apresentados, as proteínas são
geralmente recuperadas por centrifugação e utilizadas nas etapas seguintes de
concentração e purificação.
n tem referencia !
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